Nem a igreja o absolve: o peso do passado de Arruda em nova tentativa de retorno





A tentativa do ex-governador José Roberto Arruda de retomar espaço na política brasiliense ganhou um novo capítulo neste fim de semana. Durante a Convenção Geral da Assembleia de Deus de Brasília (Adeb), em Taguatinga, ele foi convidado a se retirar após insistir em entrar em um evento reservado a líderes da congregação. O episódio, registrado por fiéis e amplamente repercutido nas redes sociais, reacendeu o debate sobre o retorno do ex-chefe do Executivo à cena pública.


Segundo relatos de presentes, Arruda teria tentado ingressar na convenção mesmo ciente de que o acesso era restrito a pastores credenciados. A negativa gerou constrangimento e, de acordo com testemunhas, o ex-governador reagiu com irritação, afirmando que a igreja “pagaria o preço” caso ele voltasse ao comando do governo. A fala foi recebida com espanto e críticas dentro e fora do meio evangélico.




Entre a fé e o palanque


O incidente expõe o dilema que Arruda enfrenta ao tentar reconstruir sua imagem política. Embora ainda conte com um núcleo fiel de apoiadores que o veem como um gestor eficiente, ele carrega o peso simbólico de um dos maiores escândalos de corrupção da história do Distrito Federal — a Operação Caixa de Pandora, deflagrada em 2009, que resultou em sua prisão e cassação.


Desde então, o ex-governador busca uma narrativa de superação, tentando convencer o eleitor de que é capaz de voltar “melhor e mais maduro”. O problema é que, para muitos, o tempo não foi suficiente para apagar as imagens de maços de dinheiro e acusações de suborno que mancharam seu governo.




Barreiras jurídicas e políticas


Condenado em diversas ações e considerado inelegível pela Lei da Ficha Limpa, Arruda aposta agora em uma brecha jurídica para tentar disputar o Governo do DF em 2026. Advogados próximos ao ex-governador defendem uma nova interpretação da lei que permitiria sua candidatura, mas especialistas em direito eleitoral consideram a estratégia arriscada e improvável.


Além do desafio jurídico, há o obstáculo político. Mesmo entre aliados do passado, há quem o veja como um nome difícil de defender publicamente. Nos bastidores, líderes de partidos e igrejas avaliam que sua presença tende a polarizar o debate eleitoral e reabrir feridas que Brasília preferia esquecer.




Rejeição simbólica


A reação na Assembleia de Deus, uma das maiores instituições religiosas do DF, ilustra o quanto Arruda ainda desperta resistência. Em um ambiente tradicionalmente receptivo a políticos de diferentes vertentes, ser barrado e hostilizado é um sinal de que a reconstrução de sua imagem encontra limites — inclusive entre públicos que historicamente contribuíram para sua ascensão.


Para analistas políticos, o episódio tem peso simbólico. “Quando um político tenta transformar o altar em palanque e encontra resistência, é sinal de que o eleitor não se deixa mais conduzir pela emoção da fé, mas pela memória do passado”, avalia um observador ouvido pela reportagem.




Entre aplausos e vaias


Arruda enfrenta agora um cenário de extremos. De um lado, mantém a admiração de eleitores que o associam a obras, eficiência administrativa e proximidade com as bases. De outro, enfrenta uma sociedade que se mostra menos tolerante com práticas políticas consideradas autoritárias ou moralmente duvidosas.


Sua possível candidatura em 2026 promete reacender velhos debates: o perdão político é possível? A experiência compensa o histórico? E até que ponto a sociedade brasiliense está disposta a reabrir as portas do poder a quem já as usou de forma controversa?


Por ora, o ex-governador continua tentando equilibrar-se entre o passado e o futuro — mas, como mostrou o episódio na Adeb, há lugares onde ele ainda não é bem-vindo.






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